Ambientalistas cobram ampliação do Parque Estadual da Baleia para proteger área ameaçada

Incêndios e pressões imobiliárias e minerárias colocam em risco uma das últimas faixas de Mata Atlântica de Belo Horizonte

Out 24, 2025 - 14:44
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Ambientalistas cobram ampliação do Parque Estadual da Baleia para proteger área ameaçada
A Comissão de Meio Ambiente da ALMG debateu a proteção da Mata da Baleia, em Belo Horizonte.

A ampliação do Parque Estadual da Baleia, na região Leste de Belo Horizonte, voltou ao centro do debate ambiental em Minas Gerais. Em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa (ALMG), realizada no dia 22 de outubro, ambientalistas e autoridades defenderam a incorporação da Mata da Baleia — área de vegetação nativa que circunda o Hospital da Baleia — à unidade de conservação estadual.

Localizada entre os bairros Taquaril e Paraíso, a mata é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da capital e tem papel essencial na proteção de aquíferos e na preservação de espécies ameaçadas. O terreno pertence ao Estado, mas ainda não está inserido em uma política pública de preservação específica.

 

ÁREA HISTÓRICA E DE ALTA RELEVÂNCIA ECOLÓGICA

Criado em 1932, o antigo Jardim Botânico da Fazenda da Baleia foi a primeira unidade de conservação de Belo Horizonte e deu origem, em 1988, ao atual Parque Estadual da Baleia, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). No entanto, boa parte da mata — localizada ao longo do Córrego Navio-Baleia — ficou fora dos limites oficiais da área protegida.

Mata da Baleia, aos pés da Serra do Curral, ainda não é totalmente protegida.

A bióloga Marina Peres Portugal destacou que a região abriga espécies como lobo-guará, jacu, quati e esquilo, e que a manutenção dessa biodiversidade depende da incorporação da mata ao parque. A deputada Beatriz Cerqueira (PT), proponente da audiência, lembrou que a ampliação é fundamental para proteger os recursos hídricos e os aquíferos da região.

 

INCÊNDIOS RECORRENTES AMEAÇAM HOSPITAL E VEGETAÇÃO

Além da pressão minerária e da especulação imobiliária, a Mata da Baleia também enfrenta a ameaça dos incêndios florestais. No início de outubro, um fogo que durou três dias consumiu parte da vegetação e atingiu o entorno do Hospital da Baleia, referência em tratamento oncológico.
Devido à fumaça, cerca de 100 pacientes tiveram de ser transferidos e os atendimentos foram temporariamente suspensos.

A superintendente jurídica do hospital, Lilian Katiusca Melo Nogueira, afirmou que a instituição está comprometida com a preservação da área e busca há 18 anos regularizar sua situação fundiária, medida necessária para definir os limites da unidade de conservação.

“Estamos de braços abertos para contribuir com essa regularização e ampliar as medidas de proteção da Mata da Baleia”, reforçou Lilian.

 

IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA E PRESSÕES URBANAS

Para a geógrafa Márcia Rodrigues Marques, coordenadora do Projeto Manuelzão, a Mata da Baleia e o parque formam um corredor verde essencial entre o Parque das Mangabeiras, o Parque Estadual da Baleia e outras zonas de preservação. O Córrego Navio-Baleia, que corta a região, é um dos poucos cursos d’água ainda não canalizados da capital.

“É um cenário magnífico, mas muito pressionado pela mineração e pelo mercado imobiliário. Belo Horizonte já perdeu 98% de sua cobertura verde. Não podemos permitir mais retrocessos”, alertou a geógrafa.

Embora existam normas de proteção aplicáveis à área, especialistas afirmam que elas não são suficientes para garantir sua preservação efetiva, e alertam para o risco de ocupação urbana, especialmente de empreendimentos de alto padrão, como ocorreu nos bairros Buritis e Belvedere.

 

PLANO DE MANEJO AINDA PENDENTE

A diretora de Áreas Protegidas do IEF, Letícia Horta Vilas Boas, confirmou que o órgão é favorável à ampliação do parque, mas que o processo depende da conclusão do plano de manejo, ainda em elaboração. O documento exigirá estudos de fauna e flora, além de consulta livre, prévia e informada à comunidade quilombola Manzo Ngunzo Kaiango, que utiliza a mata em seus rituais religiosos.

A deputada Beatriz Cerqueira criticou a demora do governo estadual na criação e ampliação de áreas protegidas:

“Em sete anos, o Governo de Minas não criou nem ampliou nenhuma unidade de conservação ambiental”, afirmou.

Beatriz anunciou que fará uma visita técnica à Mata da Baleia e apresentará um projeto de lei para garantir sua incorporação ao Parque Estadual da Baleia.

 

PARTICIPAÇÃO DO GRUPO ESCOTEIROS DO BALEIA

Escoteira Luana Mendes defende a Mata da Baleia em audiência pública na ALMG.

Foto: Evandro Rodney

O 23º/MG — Grupo Escoteiro Antônio Mourão Guimarães, conhecido como Escoteiros do Baleia, atua junto ao complexo da Mata da Baleia há quase seis décadas e é parte histórica da mobilização pela conservação local. O grupo mantém rotina de atividades de educação ambiental para crianças, adolescentes e jovens — estimadas em cerca de 250 integrantes— oferecendo vivências de contato direto com a fauna e a flora da mata e promovendo práticas de cuidado e respeito ao ambiente.

Entre as ações registradas estão mutirões de limpeza, participação no MutEco (Mutirão Escoteiro de Ação Ecológica), eventos de conscientização sobre queimadas e a organização/guia em atividades como a Caminhada do Baleia, que reúne a comunidade em torno da natureza local. Essas iniciativas incluem também projetos voltados à proteção de nascentes e da qualidade da água, alinhados a programas de sustentabilidade do movimento escoteiro.

O Hospital da Baleia reconhece a atuação do grupo e já registrou publicamente agradecimento pelo trabalho e pelo exemplo prestado ao longo dos anos, demonstrando a articulação entre a instituição de saúde e os escoteiros nas ações de preservação do entorno.

 

SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA VERDE EM BELO HORIZONTE

Com cerca de 1,85 milhão de metros quadrados de vegetação nativa, a Mata da Baleia é considerada um patrimônio ecológico e histórico da capital mineira. Sua proteção definitiva é vista como essencial para garantir a qualidade do ar, a regulação do clima e a preservação dos mananciais que abastecem Belo Horizonte.

Enquanto isso, ambientalistas e comunidade local seguem pressionando o poder público para transformar o que resta da “floresta da cidade” em um símbolo vivo da resistência ambiental urbana.

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