É possível ter uma vida plena sendo autista!
A entrevista PING-PONG, da coluna Vida Plena (VP) – À Luz da Palavra, conversa com Florence Assis, 44 anos, austista, mãe de cinco filhos, sendo dois autistas, SOBRE: É POSSÍVEL TER UMA VIDA PLENA SENDO AUTISTA!
Florence de Oliveira Assis Lavorato da Rocha, 44 anos, médica cirurgiã cardiovascular, é mineira de Oliveira, casada com Gustavo Castro Lavorato da Rocha, Procurador do Estado do Rio Grande do Sul, e mãe de cinco meninos, dois deles diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Formada em Medicina, Florence se especializou em Cirurgia Cardiovascular, atuando também como intensivista e angiologista. Após os diagnósticos de autismo em seus filhos e em si mesma, ela iniciou uma pós-graduação em Intervenção ABA e tornou-se ativista e palestrante. Junto com seu esposo, fundou o projeto "Montando um Time" (@montandoumtime), que visa desmistificar o autismo e promover a inclusão. Ela organiza simpósios, incluindo o maior de Minas Gerais, que vai acontecer em novembro, em BH, para disseminar conhecimento sobre o tema.
Qual a sua experiência com o autismo?
O Autismo entrou na vida da minha família após o meu quarto filho ter completado 1 ano e não apresentar intenção comunicativa verbal, além da irritabilidade e da ausência de fixação do olhar, o que nos levou a consultar com Neuropediatra, que confirmou o diagnóstico. Nosso quinto filho apresentava comportamentos disruptivos e autoagressivos, não conseguindo desenvolver uma fala funcional, o que também levantou suspeitas, também observadas pela escola, que nos convocou para uma reunião, e que foram posteriormente confirmadas, num segundo diagnóstico. O terceiro diagnóstico da nossa família foi o meu, já tardio, aos 43 anos, através da Psiquiatra que fazia meu acompanhamento devido à depressão pós-parto de repetição. Meu diagnóstico trouxe sentido para uma série de comportamentos e padrões de conduta até, então, tidas como características de personalidade forte.
As dificuldades não foram poucas, sendo a primeira o luto e a aceitação do diagnóstico pelo meu esposo, sugerindo a busca por uma nova opinião médica. Optamos, no entanto, por iniciar de imediato o tratamento proposto pela Neuropediatra, que foi baseado no início das terapias comportamentais, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicopedagogia, com intensidade e qualidade. Os custos, no entanto, são dificuldades reais enfrentadas por todas as famílias, além do preconceito velado ou muitas vezes descarado, como aconteceu com a negativa de inclusão escolar, e acontece com a segregação em ambientes públicos, festas, no acesso a serviços de saúde, entre outros.
Como é e o que envolve o tratamento?
O meu diagnóstico, tardio, está no nível de suporte 1, tido como leve, mas não tão leve assim. Porém, sigo tratando o que hoje faz muito sentido para mim, que é a minha total e complexa dificuldade para dormir, necessitando do uso de medicação para melhor manejo da insônia.
O tratamento para meus filhos, é baseado em terapias e no método ABA (Applied Behaviour Analysis). Meus filhos já fazem tratamento desde 1 ano e 6 meses, e os resultados são hoje visíveis. Partindo ambos de um nível de suporte 3 para o nível de suporte 1, o que não quer dizer que não precisem mais de continuar realizando as terapias, pois ainda possuem algumas características que precisam ser trabalhadas e melhoradas para assegurar a sua total autonomia.
Diagnosticada com autismo e mãe de duas crianças também autistas, considera possível ter uma vida plena?
Sim, com certeza. Esperamos que eles possam ter uma vida plena e autônoma, com uma sociedade mais consciente, inclusiva e que combata o preconceito, pois o mundo é de todos e todos somos diferentes.
Qual a sua orientação para quem vive o autismo e não sabe lidar?
Cada indivíduo irá reagir à sua própria maneira diante do diagnóstico, uns melhores, outros piores. É importante ter em mente que o luto faz parte da caminhada, mas é mais importante que suas fases sejam bem compreendidas, digeridas e superadas, pois é através da compreensão e da aceitação do diagnóstico que podemos lutar para o oferecimento de melhores condições, de assistência e tratamento e, principalmente, de inclusão de nossos filhos e de nós mesmos, para buscarmos nossos espaços na sociedade.
Mesmo diante da incerteza do diagnóstico, seja pelo não fechamento pelo médico, seja por descrença pela família, o mais importante é que se assegure o início das terapias o mais breve possível, pois tempo é cérebro, e cérebro é neuroplasticidade.
BIOGRAFIA:
Florence de Oliveira Assis Lavorato da Rocha, 44 anos, médica cirurgiã cardiovascular, é mineira natural de Oliveira, casada desde 2014 com também mineiro e belorizontino Gustavo Castro Lavorato da Rocha, procurador do Estado do Rio Grande do Sul. É mãe de cinco lindos meninos: Benício de 9 anos, os gêmeos Theo e Lucca de 8 anos, Mario de 5 anos e Filippo de 3 anos. Mario e Filippo possuem diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Formada em Medicina em 2005 pela Universidade de Alfenas, realizou Especialização em Cirurgia Cardiovascular no Hospital Madre Teresa entre os anos de 2005 a 2009, além de trabalhar como intensivista desde então na Unidade de Terapia Intensivista de pós - operatório tanto do Hospital Madre Teresa, quanto do Biocor Instituto. Desde 2018, atua na área da Angiologia, principalmente nas patologias venosas, integrando o Corpo Clínico e Equipe de Angiologia do Hospital Madre Teresa.
Em razão do diagnóstico de autismo dos 2 filhos mais novos, e do seu próprio diagnóstico tardio, têm participado de cursos de capacitação, buscando sempre mais informações sobre o Autismo, assim como as doenças que acometem o neurodesenvolvimento infantil. Em 2023, iniciou a pós-graduação no curso de Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual, junto ao renomado instituto do CBI of Miami, buscando adquirir mais conhecimento na área.
Junto de seu esposo, se tornou ativista e palestrante, idealizadora do projeto
Montando um Time (@montandoumtime), que busca levar informação de qualidade, com base científica, para desmistificar o Autismo e combater o preconceito, do Selo de Ambiente Inclusivo visando à capacitação de todo e qualquer estabelecimento ou segmento comercial, realizando também podcasts e, especialmente, Simpósios multiprofissionais para disseminação de conhecimento para toda a sociedade, sendo que nos dias 15, 16 e 17 de novembro promoverá a 3ª edição do Simpósio Autismo na Atualidade, em Belo Horizonte, o maior simpósio sobre autismo de Minas Gerais, com palestrantes de todo o país.
O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é diagnosticado com base em dois critérios principais: prejuízo persistente na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. As características variam entre os indivíduos, por isso o termo "espectro" é utilizado. Os critérios diagnósticos estão descritos no DSM-V, manual da Associação Norte-Americana de Psiquiatria.
DIREITOS
Pessoas com autismo têm direitos garantidos por lei, sendo consideradas legalmente como pessoas com deficiência. Isso lhes assegura benefícios como atendimento prioritário, reserva de vagas em estacionamentos, direito a profissionais de apoio nas escolas, isenções fiscais e benefícios assistenciais para famílias de baixa renda. O autismo não deve ser visto como incapacitante, e a legislação inclui ações afirmativas para garantir que autistas possam exercer plenamente seus direitos, superando barreiras como preconceito e desconhecimento.
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